27.12.08

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A CHAVE DO CÉU

FOTOMONTAGEM 129 - FORTES PAIXÕES

MARICOTA ADORMECE NO BORDEL (uma de minhas personagens)

MA

UM TRECHO DE MINHA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SOBRE GARIMPEIROS DE OPALA DE PEDRO II -PI

Segundo Santos (1986), novas práticas sociais geram novos espaços vividos, portadores de novos atributos. Garimpeiros, porém, parecem não se adaptar com facilidade aos novos espaços sociais que emergem no mundo da opala, diferentemente dos lapidários (e, em menor medida, dos joalheiros) que os habitam com desenvoltura por necessitarem desses espaços para vender seus produtos, e agregar valor (expressão-chave do mercado) às gemas. Com efeito, garimpeiros são incluídos marginal e simbolicamente nesses espaços, e os são, ao que parece, pelo requinte que a maioria desses espaços exibe, tidos como “espaços elegantes”, “espaços de gente de posse”, “chiques”, “de cerimônia” (que, por essa acepção, tem o sentido de vergonha), na linguagem dos bamburristas, onde não guardam qualquer relação, de fato com as gemas que agora transitam sob posse de outrem. Então, apartados da gema que encontram no garimpo, não resta aos garimpeiros nada a fazer em tais espaços.

Assim, referências ao garimpo são constantes nas falas dos garimpeiros, com uma forte carga semântica que remete à rudeza do trabalho, ali, realizado.

TOMANDORES DE GARAPA DE CANA DEBAIXO DO TAMBORIL EM PEDRO II

Até à década de 1970 era comum as pessoas tomarem sua garapa de cana com pão de seu Santo Brasiliano nos quiosques instalados debaixo do grande pé de tamboril, no mercado central de Pedro II. Dentre os quiosques mais afamados estava o do seu Joaquim Rodrigues, parcamente desenhado por nós aqui, como uma justa homenagem.

MEU CANTO

TUA PELE NUA APELO OPACO DE ALGUM SONHO MEU

UM PRATO DE COMIDA JÁ COMIDA ONDE ESTÁ?

26.12.08

PROFESSOR ASDRUBAL, um de meus personagens

Um de meus poemas de que mais gosto: NÓ

MÃOS AO ALTO PARA A MOÇA!!!!

PRIMEIRO SERVIÇO DE SOM DE PEDRO II, DO SENHOR RAIMUNDO HOLANDA (ANOS 40/50).

PRIMEIRA IGREJA CATÓLICA DA CIDADE DE PEDRO II

FOTOMONTAGEM 98: AS CRIANÇAS DE BESLAN

DEBAIXO DA FIGUEIRA DE MEU AVÔ

A Jacob Uchôa estava agora em polvorosa. Mal começara a campanha eleitoral de 1955 e já havia dois mortos ainda quentinhos. As mortes ocorreram no espaço de uma semana. Um à bala. O outro a facadas. Um de cada lado. Um de cima e o outro de baixo. Ambos não eram de famílias importantes. Não tinham sobrenome famoso, mas trabalhavam nas casas dos respectivos coronéis e isso, por si só, emprestava ao fato uma aura de seriedade que beirava ao medo, chegando mesmo ao pavor para alguns.

Ambos os enterros foram magnânimos, discursos exaltados pipocaram de um lado e de outro no mesmo calibre, elogiava-se o morto, apontavam os culpados, ainda de forma vaga, e pediam que Deus o recebesse em sua glória infinita. Viúvas e filhos humildes, vestidinhos como bonecos cuja roupa fora feita de última hora, ali do lado daquela gente emplumada. Por quase quinze dias consecutivos as mulheres caridosas que moravam na ruazinha acenderam maços de velas para as almas dos finados. Ninguém foi preso. Todo mundo sabia quem eram os assassinos de um e de outro, mas ninguém era besta de abrir a boca assim se mais nem menos, e correr o risco de ter um fim trágico como os dos capangas assassinados. As pessoas aprendiam desde muito cedo a não verem nada, não falarem nada, não lembrarem de nada. Havia delas que esqueceram o próprio nome.

DEBAIXO DA FIGUEIRA DE MEU AVÔ

Um rapaz que não é o do conto do Machado, mas que também é metido a poeta e que durante algum tempo foi responsável pela edição de uma coletânea de textos de autores pedrossegundense me confidenciou uma história mantida com uma das escritoras da coletânea acerca de um texto que eu escrevera no qual dizia que o senhor Lauro Cordeiro e meu avô haviam identificado a primeira gema de opala encontrada em Pedro II. “Diga ao Ernâni para ter cuidado com o que escreve”, teria dito a senhora escritora ao rapaz. Senti-me um Galileu! “Tenha cuidado com o que você escreve, senhor Galileu, isso é muito perigoso. Olhe a Inquisição”. Isso porque sempre tive (e continuo tendo) o maior respeito pela senhora escritora. Meu texto devia ser bom mesmo, porque, do contrário, uma pessoa como ela não o leria. O que era só uma desconfiança se mostrou verdadeiro quando, em setembro de 2008 um professor da Universidade Federal de Minas Gerais, de passagem por Pedro II como participante do Projeto Rondon, deu um jeito de marcar comigo e com uns amigos um encontro num shopping local para comentar meu texto que ele conhecera ao folhear o livro no Museu da Roça .

DEBAIXO DA FIGUEIRA DE MEU AVÔ

Mandara um menino decretado chamar seu Raimundinho Carrapicho para cortar seu cabelo em casa. Desde a última bebedeira meu avô não tivera ainda coragem suficiente para encarar a rua. Ou não seria bem coragem, mas ânimo. Era também tempo de se recolher um pouco, porque além da trivial tremura de mãos. Havia saído uns furúnculos do tipo que não permitia que ele se sentasse mesmo fazendo uso de almofadas. Ele brincava às pampas, dizendo que ao menos nisso se parecia com o velho Carl Marx.








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CHICO FORMIGA

Chico formiga Costumava tocar com a banda no Clube 11 de Agosto. Tocava um piston como poucos. Negro como era,ao assoprar o instrumento com aquela vitalidade que lhe era própria, Francisco do Nascimento, o nome verdadeiro de Chico Formiga, era um show à parte. O suor do esforço no ato de tocar escorria-lhe pela face emprestando à mesma um aspecto lustroso. Seu piston era um convite aos dançarinos para as mais ousadas evoluções sobre o assoalho devidamente encerado.

Metido num terno de brim, engravatado, sapatos supimpas, era sua indumentária. Então aquele homem negro ali de pé com as bochechas a ponto de estourar, aquelas bochechas que disputavam com o nariz largo o espaço mediano daquela face negra intrigantemente infantil e dona daquele espírito refinado de quem se propusera a compreender as pessoas custasse-lhe isso tempo ou saúde, ou os dois. Mais tarde, bem mais tarde eu iria compará-lo a Louis Armstrong!

Essas matinês do Clube 11 de Agosto aconteciam aos domingos logo após a missa. Apenas as famílias da “alta sociedade” podiam entrar no clube. Eu nunca fui do high society, mas estava sempre por lá ao pé do coreto vidrado na orquestra. Meu avô, que não era rico, mas era um intelectual, era sócio do Clube 11 de Agosto. Isso me permitia passar pelo porteiro, José do Carmo, sem ao menos ter que apresentar a carteirinha. É neto do seu Bidoca, pode entrar. Me dizia o bondoso homem e com um afago em minha cabeça me punha para dentro.(Trecho de um de meus próximos livros).

TRECHO DE "TORQUATO PEREIRA"

Quando Torquato Pereira intuiu que tinha que sair de casa, nada mais o removeria dessa idéia assanhada, que era como a avó chamou aquele impropério do rapaz. Ora, o rapaz tinha lá suas razões. A avó tinha lá suas razões. O diabo tinha lá suas razões. Mas alguém tem que sair ganhando nisso e Torquato não estava a fim de abrir mão de um milímetro que fosse daquela decisão. Torquatinho pra cá, Torquatinho pra lá, a velha quase estragara o menino. Ele mesmo viva dizendo para os amigos mais chagados que não sabia como não tinha se transformado num afeminado de merda, num viadinho filho da puta. Os outros caiam na gargalhada, aberta e deslavada.

25.12.08

COMO RABADA E GOSTO

Tem um programa e TV no qual um médico filho de uma puta vive dizendo pra gente o que se deve comer ou não comer. Pois não é que o porra desse médico devia era ir dar o cu, ao invés de ficar aí dando uma de menino de recado da McDonald’s! Não se vê logo, seu moço, que eu, logo eu, um cabra macho, não abro mão de uma boa rabada nem que deus do céu me pedisse diante do diabo para não. É bom, rabada é bom. Seja ela feita por Maria da Vida ou Maria d’Virgem. Mata-se a vaca, abrem-se-lhes as entranhas sagradas, da vaca, fio fino de faca afiada cortante em golpe silencioso, de palmo a palmo já, agora, a coxa roxa dependurada na azougue, na argola do cabide do açougue, no desmijo do redemoinho nu da culpa que se estatela na, agora sala, onde se defecam palavras sobre a mesa da ceia que se anseia pela rabada dada aos olhos que se fixam na alvura dos pratos dispostos sobre o silêncio demoníaco de uma mesa-cama pã abocalhada pela boca de uma moça alada alçada aos céus pelos pentelhos muito tênues do desejo de ser enrabada.

TRECHO DE "DEBAIXO DA FIGUEIRA DE MEU AVÔ"

Meu avô costumava responder às saudações de bom dia, boa tarde e de boa noite dos passantes. Mas quando estava lendo para os netos não respondia a ninguém, de forma que as pessoas mais chegadas avisavam umas para as outras: Seu Bidoca não está dando bom dia hoje. Está lendo para os netos. Isso era sagrado.

Chegava mesmo a ser vexatório para algumas dessas pessoas quando, na impossibilidade de evitar, vinham solicitar a atenção de meu avô para outro fim que não o da leitura naquela hora. Ao receber o recado ele ficava alguns segundos sem nada dizer. Depois olhava para o trazedor da nova e, se fosse mesmo algo sério, deixava o livro marcado na página até então lida e nos dizia para esperar por algum tempo. Se não voltasse no tempo combinado a leitura ficaria para a noitinha, ou para a outra manhã, se fosse o caso.

23.12.08

F I L M E



Eu cato besouros verdes
Kato cata Bruce Lee
A menina de olhos verdes veste uma calça Lee
E ao mesmo tempo lê este poema

O poema teima em não ser da menina
Nem sobre a menina
Nem que sobre a menina
Nem a menina
Nem

Besouros verdes também voam
Logo a cor não interfere em sua aerodinâmica
A menina de olhos verdes captura com o olhar os besouros verdes
Que se refletem em seus olhos igualmente verdes
Enquanto se precipitam em queda livre
Sobre a menina que não há

Cato os olhos verdes da menina
Que esperam os besouros em queda verde
Logo verde é uma das variantes do vôo cego dos besouros
Isto é, interferem na aerodinâmica do vôo livre, sim
Porque preso aos olhos da menina verde
Bruce Lee desfere golpes de karatê
Sobre as asas dos besouros
Na verde paisagem ausente dos olhos da menina
Que não há

o ser

o ser


por não ser capaz

despoema ao Pirapora

Alguém me disse que parasse de escrever poemas a ti, Pirapora,
E eu, atônito, espremido entre o riso e o espanto
Levei um século para perguntar-lhe: mas por quê?

Porque não se faz poema a moribundos.
A estes ou se tenta reviver
Ou quando não houver mais jeito, que assim seja.
Disse ela fuzilando-me com os olhos.

Perdido em meu deserto de poeta,
Palmilhando as esquinas enluaradas de outrora,
Passeando bem defronte dos canteiros da praça da matriz
Aquela frase caia-me como uma espada de Alá
Sobre minha cabeça que era só estupefação e desassossego.

Como não te fazer mais nenhum poema
Logo eu que te teci em rima e verso
E que, confesso, ainda lacrimejo quando me recordo de ti
Outrora exuberante, impávido, imponente monumento natural?
Logo eu que bebi de tua água sagrada e ali fui batizado em nome de Gaia!

Como não mais erguer o punho
E rabiscar, entre o suspiro e o lampejo,
Um verso largo, oceânico,
Ou mesmo um desses versos tolos
Que os adolescentes compõem e os espalham entre as estrelas,
Ao menos um verso simples
Que comportasse tua sereia
Teus ocasos ensangüentados de sol e de paixão?

Como não mais pegar do violão
E dedilhar o burburinho de tuas lavadeiras
Que riam,outrora, entre o coaxar de sapos
E o sibilar de libélulas
Todos igualmente livres, sabiamente harmônicos.


“Não comporás mais nenhum poema ao Pirapora...” A frase vinha-me agora em sonhos!
“A menos que vejas a alma desse lugar, não comporás mais nenhum poema!”
Que já foi paraíso e hoje é esquecimento
Tardio lugar onde a vida flutua
Trêmula e angustiadamente
Mas que não se entrega e teima em permanecer.

Está certo: por enquanto não comporei nenhum poema ao Pirapora
Porque agora o momento é de agir,
Porque agora o momento é de interferir
Para ajudar a vida a voltar a acontecer, plena e bela
Como a vida sempre quis ser.


Compreendo, agora, que o poema de que o Pirapora precisa
É o poema tecido por todos,
Não apenas pelas mãos solitárias do poeta.

Compreendo que é preciso compor um poema coletivo
Escrito nas águas, escrito no vento
Para ser espalhado aos quatro cantos.


Porque o Pirapora é nossos avós
O Pirapora sou eu-árvore e é você-rocha, o outro-água ... cotidianamente.

E, quem sabe, assim, no futuro
Quando todos formos só lembrança
(Ou nem mesmo mais isso)
Algum outro poeta, diante daquela beleza monumental,
Mirando do paredão um horizonte coalhado de quase saudade
Quem sabe, então, este poeta volte a compor um poema ao Pirapora,

Mas aí então, não haverá mais a necessidade
De separar o Pirapora da poesia
Só porque um dia fomos todos prepotentes demais....

(* Pedro II, 14 Fev. 2004, I Fórum Ambiental da Grande Pedro II)

k A O S

eu canto a cidade
de qualquer canto da cidade
eu ouço o silêncio pegajoso no desespero dos conflitos

sonhos marginalizados
flashes fétidos a pipocar por suas cloacas


eu canto a cidade
feito um cão solitário
e em meu latido pálido
carrego as mágoas dos depauperados
nesse canto seco e sujo
nesse lócus estéril e profundo
meu grito é lâmina atroz, volátil

eu encanto a cidade
acesa nos corpos das meretrizes
no ronco dos bêbados com suas esquisitices
nos olhos esbugalhados dos viciados

eu moro na cidade
eu morro na cidade
e meus restos se confundem com o que de resto sobrou
da pulverização total dos dramas
no silêncio visceral das alcovas sangrentas das damas
na mutilação genital dos conceitos

mas às vezes, por questão de sobrevivência,
me calo com a cidade
e fico quieto
e engulo a saliva no ruminar perplexo do engasgo

POEMA PARA ANA (para Ana Beatriz)

teu canto
é nosso encanto, em qualquer canto,
quando de tua garganta brotam
anjos de açúcar
que vêm aquiescer
nossas almas tão carentes, apáticas

no entorno de ti
o som torna-se fera domada
nos timbres, nos entalhes e torrentes
que teu espírito nivela
ou, agudo, eleva
ao mais alto ponto da escala

teu canto é pura calma (em chamas)
de uma garganta que não se cala
e quando fala já canta
e invade a porta invisível da sala
da alma da gente
tão vivente, galáctica!

REALIDADE PLÁSTICA

sacos ao vento
homens de plástico confusos, transparentes,
no lugar do coração o logotipo de alguma multinacional.
fantasias de carnaval?
no!
homens de plástico descrevendo no espaço
etapas de um lento movimento que parece não ter fim.
sacos e homens patéticos e um vento apocalíptico soprando.
vento morno desempregando ex-homens metais.
homo-faber que mora no ABC e não sabe ler.
impasse. Grave greve decretada. Paralisação geral.
à mesa patrões e empregados discutem desejos expostos de importância capital.
lá fora sacos de plástico vazios, vazios estômagos desse filhos de Adão.
homens de plástico esmagados ao chão, seus filhos entulhados em barracos,
pares de olhos que desde cedo focalizam um mundo imundo.
bocas fechadas ao protesto e à comida, corpos esqueléticos, tentativas de vida,
em meio a um vôo suicida,
involuntários Kamikases brasileiros.
arrastados pelas correntes de vento, esboços de homens desfilam em câmara lenta
numa melancólica agonia

(*) 1º lugar no concurso de poesia da UFPI – 1986)

SINTÉTICO

POUCAS PALAVRAS
SOLTAS

POUCAS PALAVRAS
ROUCAS

POUCAS PALAVRAS
LOUCAS

AO AMIGO MORTO (Para Manuel Veras in memoriam).

ontem era a brisa mansa
a beijar-lhe os cabelos macios,
a voz firme a sair-lhe da alma,
o brilho profundo do olhar...
ontem era o acalanto de braços abertos,
o beijo quente do lábio ardoroso.
o carinho a minar-lhe os dedos.
ontem era o passo firme
a caligrafia firme,
o sim e o não professados com veemência...
ontem era a mente no comando de tudo,
de cada gesto,
na profusão de cheiros, toques, sabores.
hoje a voz é estio
a casa é assombro,
o olhar é perdido,
o lembrar é saudade

incrustado sob a pele silenciosa do planeta
ele segue, como nós, a esmo pela imensidão do nada,
terrivelmente descaroçado de beleza e de carícias

EGOSSISTEMA

no escuro de mim
é que me perco e me acho:
boi cego a ruminar estrelas
vida, meu jogo radical,
nem tanto ao bem,
nem tanto ao mal.
antes eu, de mim mesmo a ferida.

meu corpo, planeta profano,
em trânsito pela galáxia de humanos e máquinas.
eu (perplexo), espelho invertido, convexo
do mundo que me engasga.

meu tempo, o tempo que dura a emoção.
elemento estrábico onde leio remotas notícias de mim.

sangro dentro da noite
num monólogo mudo, terminal,
por entre zonas de sono e silêncio
onde toda verdade é mentira,
onde toda mentira é real

(*) 1º lugar no concurso de poesia da UFPI – 1987.

O LOUCO

o homem à janela
se-pa-ra peixes de escamas douradas.
duas mãos morenas murmuram palavras perdidas.
Um par de olhos – em forma de peixe? –
espia estrelas descansadas ao fundo do alguidar de barro cozido

um sol moribundo t
o
m
b
a

por detrás da linha do horizonte
num céu noturno
ébrios deuses atiram-se gemas de luz
ao poeta

em tuas mãos guerreiras
a sentença errante de um sol enjaulado pulsa
e tua espada espectral é uma galáxia de versos
desferidos contra o oblíquo espaço humano
onde o poema – campo de combate cotidiano –
trava consigo uma luta corporal
na hieroglífica paisagem de signos.

peregrinos por entre escombros vocabulares
- anteriores altares de deuses –
o gesto primitivo, brutal, de tua espada
r
o
m
p
e

o flanco demente
na margem ígnea de íris perplexas
onde o real e o sonho ga – lo – pam lado a lado
sob o mesmo sol domado


(1º lugar no concurso de poesia da UFPI de 1985)
Os gritos espocados, o andar sinuoso das moças, o pigarro dos velhos, as corridas marotas das crianças por entre as bancas dos feirantes, o zanzar inquietantes das moscas, o transitar aveludado dos cães, a agilidade nos gestos das vendedoras de rede, também o cheiro das frutas frescas, da leitoa assada na brasa, do pirão de leite, o odor palatável da garapa de cana-de-açúcar, o balançar das tendas improvisadas ao sabor do vento sob a sombra materna do velho Tamboril, nada mais disso vingava. Tudo havia cessado, parado por completo. A feira havia acabado. O mercado central virava um cemitério.
Era pleno mês de abril. O céu azulava na vista de fazer dó. Torquato Pereira tinha como missão delegada pelo próprio pai receber os compradores de cera de carnaúba, que não se sabia porque das quantas naquele ano fizeram questão de vir até Matões pessoalmente. Ora, era costume deles todos mandarem seus empregados de confiança vir comprar a cera. Mas não que eles próprios viessem. Desde que recebera o telegrama dos compradores avisando-o de sua vinda até Matões que o pai de Torquato e o próprio Torquato ficaram meio intrigados.
Maria Preta tinha por hábito acocorar-se no terreiro da casa de dona Zica para degustar o café que a outra preparava para tomarem às duas da tarde. Era sagrado. E não viesse Dona Zica com aquele negócio de minha filha, sente-se aqui que ela sentava mas só depois de um tempo. Agora, porém, com a barriga ia logo aceitando a cadeira que a outra punha para ela. Gostava mesmo era de sorver o café fumegante acocorada à sombra da goiabeira defronte da porta que dava para a cozinha. Grávida, tomava menos do que de costume, ficava até com vontade de tomar mais, mas resistia à tentação. Conhecia Dona Zica desde pequena, quando vinha desde
EQÜÍSSIMA!

Algumas mulheres se parecem a éguas de puro sangue. Ela me disse com os olhos crivados na moça que passava logo adiante de nós, na praça, a quem eu conhecia. Olhei para a moça e para ela em seguida e ainda pude ler em seus lábios ‘puro sangue’. Era uma bela imagem: mulheres-éguas a trotarem pela cidade, iniciando pequenas corridas até correrem como o vento pelas pradarias. Mulheres-éguas com suas crinas ao vento, suas mamas ao vento, bocetas ao vento perseguidas por homens-cavalos a seguirem-lhes pelo cheiro do cio.

UMA DE MINHAS PRIMEIRAS PINTURAS: CAIS, 1980

MEU AVÔ, BIDOCA GETIRANA, E NETOS DEBAIXO DA FIGUEIRA

O ESCRITOR AOS 2 ANOS DE IDADE NA PRAÇA VELHA -PEDRO II - PIAUÍ

MAIS DO MESMO

Meu avô viveu boa parte de sua vida nesse fogo cruzado. Embora fosse fiel ao coronel de baixo, suas leituras variadas sobre a civilização humana, devotando boa parte de seu tempo ao mergulho em livros de Filosofia, História, Geografia, Economia e uma infinidade de outras ciências certamente o tornavam um homem universal, capaz de discutir todas essas coisas com quem quer que fosse. Mas discutir com quem em Pedro II naquele tempo? Se as pessoas não conseguiam enxergar além do quarteirão no qual viviam aquartelas sob o guarda-chuva dos coronéis (...).



(Fragmento de "Debaixo da Figueira de Meu Avô", meu próximo livro).

DEBAIXO DA FIGUEIRA DE MEU AVÔ (trecho do meu próximo livro)



Em sua primeira viagem à Serra dos Matões onde pretendia pesquisar sobre a chegada dos colonizadores europeus por estas bandas, o sr. meu avô, na companhia de mais outros três amigos apeou o cavalo na casa de sua futura esposa sem que nenhuma pretensão tivesse de, a partir daquele colóquio, casar-se mais tarde com terna criatura.