23.12.08

AO AMIGO MORTO (Para Manuel Veras in memoriam).

ontem era a brisa mansa
a beijar-lhe os cabelos macios,
a voz firme a sair-lhe da alma,
o brilho profundo do olhar...
ontem era o acalanto de braços abertos,
o beijo quente do lábio ardoroso.
o carinho a minar-lhe os dedos.
ontem era o passo firme
a caligrafia firme,
o sim e o não professados com veemência...
ontem era a mente no comando de tudo,
de cada gesto,
na profusão de cheiros, toques, sabores.
hoje a voz é estio
a casa é assombro,
o olhar é perdido,
o lembrar é saudade

incrustado sob a pele silenciosa do planeta
ele segue, como nós, a esmo pela imensidão do nada,
terrivelmente descaroçado de beleza e de carícias

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