8.2.10

YASMIM EM SEU PRIMEIRO DIA DE AULA (8/2/2010)


LIVRO "LENDAS DA CIDADE DE PEDRO II" - 3ª EDIÇÃO - JÁ à venda.

GUERRA DOS MUNDOS



Eu durante as filmagens de "Guerra dos Mundos" (notar o assustador olhar do robô gigante que me espreita).



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O MAIOR DOS ESCÂNDALOS



DANIEL PIZA (de O Estado de São Paulo)10.1.2010

O maior dos escândalos brasileiros é o menos comentado: os resultados da educação. Na semana passada o Ipea divulgou que apenas metade dos brasileiros de 15 a 17 anos está cursando ou concluiu o ensino médio. Temos, portanto, 5 milhões de jovens que estão muito atrasados ou então abandonaram a escola. E o que eles fazem? Muitos trabalham, mas com baixa probabilidade de chegar a empregos melhores, de subir na vida. Outros vão parar no crime. E muitas engravidam precocemente, uma das tendências sociais mais fortes do Brasil contemporâneo. Essa geração pode ou está prestes a votar, mas mal consegue entender conceitos mais abstratos e se expressar coerentemente e mal tem o direito de sonhar em ir além do que os pais foram em bem-estar e felicidade. Outra notícia calamitosa da educação brasileira, nos últimos dias, diz que quase metade dos professores da rede paulista não passou nas provas, ou seja, não tem domínio sobre o conteúdo que deveria transmitir aos alunos. O brasileiro médio, enfim, fez pouca escola e fez uma escola ruim.

Se você acha que isso tem pouco a ver com a economia, afinal estaríamos crescendo a quase 5% ao ano, está enganado. O PIB não é tudo. Gerar empregos é fundamental, e algumas medidas ajudaram a aumentar um pouco a formalidade (empregos de carteira assinada); mas é preciso gerar mais empregos qualificados, que formem cidadãos mais críticos e criativos, com mais perspectivas de melhora, e que sejam capazes de competir com os estrangeiros, de oferecer vantagens relativas. E isso não tem acontecido no ritmo necessário. Há uma relação direta entre a baixa qualificação e o fato de que o Brasil ainda vive de exportações baseadas em commodities, com participação cada vez menor dos bens industriais e dos produtos com densidade tecnológica. Alguém pode objetar que a soja e a carne que vendemos são frutos de ganhos de produtividade obtidos pelo conhecimento divulgado por instituições como a Embrapa. Bem, a afirmação seria apenas mais uma demonstração de como é importante ter a informação e o método. No semiárido, na serra gaúcha ou no cerrado central, vi numerosos exemplos disso, da diferença que fez a educação de muitos jovens em escolas técnicas e faculdades de agronomia.

Essa educação rarefeita, que mesmo nas exceções tende a padecer do esquema “decoreba” (em que datas, nomes e fórmulas são memorizadas mecanicamente, com escassa relação com a observação da vida real), cria outros problemas que me parecem subestimados. Um deles é a custosa demora em explorar nichos que até seriam de bom potencial, como a chamada “indústria criativa” (que envolve mídia, turismo, informática e outros serviços que em países como a Alemanha já pesam mais no PIB do que a indústria automobilística) e diversos campos científicos novos, como a nanotecnologia. Como a cultura brasileira é conservadora, supõe-se sempre que o progresso é inercial; se estamos melhores em anos recentes, estaremos melhores nos próximos também... Mas a história, essa dama ardilosa, não anda em linha reta. De repente um setor que parecia menor do mundo produtivo se torna um divisor, e quem não fez esforço consciente em aderir a ele tomará um susto do futuro. Já imaginou se tivéssemos continuado com a reserva de mercado da informática que PMDB, PT e os militares defendiam nos anos 80? A revolução digital teria passado ao largo, ou ainda estaríamos usando computador TK 3000.

Por falar em cultura, são valores propagados pela nossa vida cultural – em produtos menos sofisticados ou mais, de telenovelas a ensaios acadêmicos, e no cotidiano das conversas entre pais e filhos, professores e alunos, chefes e subordinados – que atrapalham a percepção desses problemas. Informação e método não fazem apenas o trabalhador ser mais produtivo; fazem o indivíduo enfrentar a existência com mais ética, menos desperdício e mais espírito coletivo. E, no entanto, o que temos? Temos cronistas que morrem de medo do progresso e chegam a dizer que “não nascemos” para coisas como ciência e tecnologia. “Nosso negócio” é jogar futebol moleque, cantar canções para as morenas, fazer festa... Os mesmos que se dizem nacionalistas são os que desdenham bolsões de excelência como Embrapa, Embraer, Projeto Genoma, etc. E são os mesmos que nas aulas diziam para o professor “não levar tão a sério”, forçando a inclinação para o comodismo e a palpitagem, para a discussão de vaidades e futilidades em vez de ideias. Para essa gente, ler é chato, matemática é chato, arte é feita apenas de espontaneidade. E esperto é quem sonega, quem se dá bem sem precisar gastar os olhos em cima dos livros.

Os alunos estão desistindo, os professores também começaram a desistir, mas o Brasil está quase lá... Automaticamente aprovado a cada ciclo.
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