7.1.09

OS FILHOS DAS PUTAS E OS FILHOS DAS SANTAS

Rua central, a Jacó Uchôa era passarela também de prostitutas que por ela desfilavam quando vinham comprar perfume na mercearia de seu Antônio Bela, mas aí já estamos na década de 1970. Antes disso, essas moças da vida sequer podiam vir ao centro da cidade a não ser no meio da noite quando precisavam comprar, de fato, algum remédio. Penicilina, sobretudo. Às vezes nem isso e então pediam que algum rapazote fizesse as compras. As pessoas terminavam descobrindo a identidade do rapaz e, quando os insultos se avolumavam a ponto de ele não mais poder suportá-los, elas encontravam outro. Eram os filhos das putas ou FDPs, como as senhoras casadas e de boas famílias os chamavam. Não era raro, porém, que em cada uma das boas famílias houvesse pelo menos um FDP por conta de um marido que escorregasse na casca de banana ou de uma moçoila que houvesse aberto as pernas para algum aventureiro encantador. Maricota dizia estas coisas e caía na risada mascando sua inseparável péia de fumo e encharcada de Serrana até não poder mais. O que entra tem que sair, de jeito e qualidade, meu padrinho. Tem que sair, tem que sair. E essa cidade é uma tuia de merda. Era seu bordão predileto. (Trecho de meu livro "Debaixo da Figueira de Meu Avô" - (sai em 2009))

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