7.1.09

CHICO FORMIGA

CHICO FORMIGA

Chico formiga Costumava tocar com a banda no Clube 11 de Agosto. Tocava um piston como poucos. Negro como era,ao assoprar o instrumento com aquela vitalidade que lhe era própria, Francisco do Nascimento, o nome verdadeiro de Chico Formiga, era um show à parte. O suor do esforço no ato de tocar escorria-lhe pela face emprestando à mesma um aspecto lustroso. Seu piston era um convite aos dançarinos para as mais ousadas evoluções sobre o assoalho devidamente encerado.

Metido num terno de brim, engravatado, sapatos supimpas, era sua indumentária. Então aquele homem negro ali de pé com as bochechas a ponto de estourar, aquelas bochechas que disputavam com o nariz largo o espaço mediano daquela face negra intrigantemente infantil e dona daquele espírito refinado de quem se propusera a compreender as pessoas custasse-lhe isso tempo ou saúde, ou os dois. Mais tarde, bem mais tarde eu iria compará-lo a Louis Armstrong!

Essas matinês do Clube 11 de Agosto aconteciam aos domingos logo após a missa. Apenas as famílias da “alta sociedade” podiam entrar no clube. Eu nunca fui do high society, mas estava sempre por lá ao pé do coreto vidrado na orquestra. Meu avô, que não era rico, mas era um intelectual, era sócio do Clube 11 de Agosto. Isso me permitia passar pelo porteiro, José do Carmo, sem ao menos ter que apresentar a carteirinha. É neto do seu Bidoca, pode entrar. Me dizia o bondoso homem e com um afago em minha cabeça me punha para dentro.

Havia algumas músicas que o piston de Chico Formiga apenas alinhavava. Outras ele dividia com o clarinete de Carlos Cordeiro e noutras, finalmente, ele solava impávido como um deus de ébano. Solava por alguns minutos. Na verdade era uma seqüência dessas músicas exaustivamente ensaiadas e que ao ser apresentadas punham a todos de queixo caído, principalmente a gurizada. Quanto aos adultos, como foi dito, estes saíam a bailar pelo salão em estado de graça.

Am mulheres com os cabelos ensopados de laquê, os vestidos de organsa fofos. Os homens de calça de garbadine, camisa de fio da Escócia. E tomava-se cerveja, cuba livre e coca-cola e guaraná. (Trechos de Umbanda por Estas Bandas, de Ernâni por Estas Bandas).


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