8.1.09

MARIA PRETA (Trecho de meu livro que deverá ser concluído em 2009)

Maria Preta tinha por hábito acocorar-se no terreiro da casa de dona Zica para degustar o café que a outra preparava para tomarem às duas da tarde. Era sagrado. E não viesse Dona Zica com aquele negócio de minha filha, sente-se aqui que ela sentava mas só depois de um tempo. Agora, porém, com a barriga ia logo aceitando a cadeira que a outra punha para ela. Gostava mesmo era de sorver o café fumegante acocorada à sombra da goiabeira defronte da porta que dava para a cozinha. Grávida, tomava menos do que de costume, ficava até com vontade de tomar mais, mas resistia à tentação. Conhecia Dona Zica desde pequena, quando vinha desde

Maria Preta era pontualíssima. Após a passada costumeira pelo mercado para as compras da semana, sempre por volta das duas da tarde aparecia para uma conversa com aquela mulher que lhe recebia tão bem, como a uma filha muito querida. A visita se dava sempre às sextas, quando vinha buscar a trouxa de roupa para lavar no sábado lá para as banda do Pirapora. Muitas veze dona Zica também não entendia porque a moça havia se casado com o peste do ------. Olhasse bem para ela, tinha os cabelos longos, lisos e macios, mas os trazia presos em coque com um pente da vovó devido à ciumeira do infeliz.

As duas mulheres ficavam por algum tempo tomando o café e conversando sobre assuntos variados que, no entanto, terminavam numa espécie de conselhos por parte da mais velha e de abrimento de coração e de alma por parte da mais nova. Filha nenhuma expunha as profundezas de seu coração a uma mãe de verdade como Maria Preta expunha as suas à Dona Zica. Mãe nenhuma aprendera a conhecer a alma de uma filha como aquela mulher conhecia a de Maria Preta.

Naquela Sexta-Feira Maria Preta sorvia o café segurando a xícara com as duas mãos em forma de concha. Dona Zica já nem reparava mais nisso, resolvera aceitar Maria como ela era e ela era uma alma excepcional. Tinha o olhar muito vivo apesar de uma nesga de quase tristeza a pousar-lhe eternamente sobre as sobrancelhas, muito finas e bem desenhadas. A moça tomava seu café enquanto acompanhava os meninos que brincavam lá no fundo do quintal por entre os pés de cidreira, de banana, os pés de ceriguela e de umbu-cajá.

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