16.1.09

CHICO PIONEIRA E A VIRGINDADE

Por aqueles tempos instalara-se na Jacob Uchôa uma papelaria. Como era a primeira a se arriscar em Pedro II chamou-se de Pioneira e o seu dono, Francisco, mas o povo logo o batizou de Chico Pioneira. E eis que Chico Pioneira se pôs a botar no serviço de auto-falante que carecia de moças que soubessem datilografar. Havia pouquíssimas. Apresentaram-se três e duas conseguiram emprego.

Uma das moças trabalhava na Casa Paroquial meio expediente e logo mães invejosas porque suas filhas não conseguiram o emprego, apesar de mais bonitas e oferecidas, trataram de depreciar a mocinha. Chamando-a, para começar, de rapariga do padre. Algumas vezes ela vinha tomar um copo de água na casa de meu avô e chorava baixinho para minha avó, que a consolava e dizia que ela não ligasse não, que era só maldade do povo.

Com o passar do tempo as más línguas, algumas pertencentes a bocas que se abriam para fuxicar ali mesmo na Jacob Uchôa, começaram a dizer que agora era o dono da papelaria que estava namorando a menina. Chico Pioneira era um galanteador incorrigível, mas não há provas de que se afoitasse com as moças que trabalhavam com ele. Fazia um ano e pouco de sua chegada à cidade e vivia dizendo que a esposa viria em breve com a filhinha, precisava só arrumar melhor as coisas.

Na verdade ele era muito profissional e um dia quando conversava com meu avô, sabedor que o velho Bidoca não era lá dado a amizades com padres saiu-se com essa. O senhor logo não vê que não sou besta de namorar logo a menina que trabalha comigo de quem todo mundo fala dela com o padre. Fosse eu padre, aí eu pegava mesmo. Saísse grávida e eu diria simplesmente que ela continuava virgem. Não é isso que dizem da mãe do patrão dele ainda hoje, depois de dois mil anos? (Trecho de meu livro "Debaixo da Figueira de Meu Avô, a sr lançado em 2009).

Um comentário:

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Muito bom!
Seu livro deve ser uma delicia de se ler, com histórias assim.
Um abraço.