21.5.10

O QUE SÃO AS LENDAS, AFINAL?

 

"Cama de Baleia", uma das 9 lendas da cidade de Pedro II pesquisada por mim

Contar histórias é uma das práticas mais antigas da humanidade. Desde que começaram a gesticular e a produzir sons através do aparelho respiratório os seres humanos desataram a contar histórias. O que é uma história senão uma versão muito particular (e rica em detalhes) de um acontecimento onde acrescentamos algo que não aconteceu exatamente assim, mas que poderia ter acontecido assado? Ou cru mesmo?

Brincadeira não tão à parte, as lendas brotaram de algumas dessas histórias. E como toda boa história ninguém sabe bem quem foi seu primeiro contador. Mas é certo que quem conta uma lenda a ouviu da boca de outra pessoa que por sua vez ouviu de outra e assim por diante. Se não ouviu, leu. E se não leu, escreveu. Aliás, escreveu, não leu, o pau comeu.

As lendas são narrativas orais (faladas) que alguém pode, eventualmente, passar para o papel, isto é, escrever. E ao fazer isso o escritor estará dando sua contribuição para a pesquisa que as futuras gerações poderão vir a fazer e, assim, manter viva a memória popular através dos tempos. O que em nada invalida as histórias orais que continuam atravessando os tempos e os espaços magnificamente. Aja fôlego.

Uma lenda é uma narrativa (uma história) contada por pessoas que vivem em um determinado lugar e numa determinada época e cujas histórias coletivas vão passando de geração em geração. Toda lenda gira ao redor de um personagem central que realiza um determinado designo (tarefa) para obter algum resultado.

Uma diferença básica entre lenda e mito é que a narrativa lendária tem um espaço (onde) e um tempo (quando) bem definidos. Já o mito é atemporal. Um mito também pode ser engendrado a partir de várias lendas.

Conhecer e valorizar as lendas de nossa comunidade, de nossa gente pode tornar-se algo muito prazeroso e gratificante, pois além de as lendas serem, num certo sentido, espelhos onde nossas fantasias, medos, sonhos e desejos são projetados elas nos ajudam a manter nossa cultura viva. E em tempos bicudos de globalização essa é uma atitude indispensável, ao lado de outras, para nos firmarmos/afirmarmos como cidadãos e como pessoas humanas que podem, sim, muito bem abrir/manter um diálogo com nossa ancestralidade e, conseqüentemente, com nossa posteridade. Afinal, nós passamos e as lendas, ah... as lendas permanecem.


Ernâni Getirana

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