17.1.11

UM POEMA DE PAULO JOSÉ CUNHA

Esculturas de lama

Durante as enchentes, nos desabamentos, sob a chuva,
os mortos vêm à luz esculpidos em lama.
A imprensa os cristaliza em manchetes dramáticas, fotos premiadas.
Não são mais vivos nem mortos: são eternos.

Milênios depois,
e lá estão as estátuas de lama
compondo admiravelmente
os livros de arte
da história da fotografia.  

(Só depois de bem lavados da lama que os mantém vivos,
longe das câmeras e da bisbilhotice dos repórteres,
os mortos retornam ao choro das famílias
e conseguem morrer em paz).
TWITTER: @Getirana

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