24.5.10

TENDA DA CRUVIANA: DADOS SOBRE PEDRO II

 (Foto: B.Barros)

UM POUCO (SÓ UM POUCO MESMO) DE HISTÓRIA

Segundo Pereira (1988), o município de Pedro II teria sido fundado no final do século XVIII por João Alves Pereira que chegara por ali na companhia de seus irmãos Albino Pereira dos Santos, Abel Pereira dos Santos e do primo Antonio Pereira da Silva. Seriam todos de origem portuguesa e um de seus primeiros atos foi a construção de uma capela devotada a Nossa Senhora da Conceição, mediante a doação feita por João Alves Pereira de 1,5 Km2 de terra à Igreja. A Paróquia de Nossa Senhora da Conceição dos Matões teria sido criada pela Lei Provincial nº 295, de 26 de agosto de 1851. O núcleo social ali constituído seguiu o padrão dos demais núcleos populacionais do Estado do Piauí à época, isto é, baseou-se na fazenda e na família.
Na verdade, não se vai dizer aqui que a sociedade de Pedro II, nos termos de sociedade de origem colonial, surge exclusivamente a partir desses povoadores portugueses que ali chegaram, ao final do século XVIII e que fixaram moradia no lugar por eles denominado de “Pequizeiro”. Tal visão simplória da formação das gentes piauienses não tem mais sentido. Muito provavelmente os negros fugitivos já formavam uma pequena comunidade na região de sertão conhecida como “São Luis”. Outros trazidos na condição de escravos deram início ao que hoje é o bairro “Saborá”, primeiro bairro da periferia da cidade de Pedro II, habitado por escravos ou seus descendentes, como parecem sugerir as notas de compra e venda de escravos ainda existentes em um dos cartórios locais. Desse bairro, procedem as primeiras lavadeiras e engomadeiras que serviam nas casas da elite econômica e política local. Além do que, na formação da sociedade pedrossegundense não se pode ignorar a presença indígena, cuja descendência fixou-se, sobretudo, na comunidade “Nazaré”.
A partir daí, tal sociedade seguiu um padrão conhecido de todos que a estudam. A rigidez de sua estrutura social, a concentração do poder político nas mãos de poucas famílias locais, o domínio do latifúndio, dentre outros fatores, marcaram e ainda marcam profundamente o modo de ser dos pedrossegundenses.
Fortes disputas políticas entre as, assim chamadas, “famílias tradicionais” pontuam a história desse município, na vigência do coronelismo, segundo Faoro (2004), uma prática de cunho político-social que vingou na Primeira República (1889-1930), nas cidades do interior do Brasil cujos dignitários (os coronéis) exerciam o poder em toda a plenitude da vida social, concentrando cargos, favorecendo amigos e aliados e cometendo os mais abjetos desmandos.
As práticas coronelistas que, de fato, determinavam a vida política do município, alijaram, econômica e socialmente, parte considerável da população pedrossegundense, sobretudo devido à concentração da terra, aspecto da realidade do município de Pedro II que será aprofundado no capítulo III, ao se abordar o contexto social no qual os bamburristas, de opala estão inseridos.


A Comarca Geral de primeira instância do município foi criada pela Lei provincial nº 872, de 15 de junho de 1875. Faziam parte da Comarca duas freguesias: a de Piripiri e a de Pedro II (grafado “Pedro Segundo”). A sede da segunda Comarca era a Vila de Pedro Segundo, assim consta no anexo da fala do Exmo. Dr. Raimundo Teodorico de Castro Silva, presidente da província do Piauí, na abertura da 2ª Sessão ordinária da 25ª legislatura da Assembléia Provincial do Piauí, no dia 1º de junho de 1885.


Para Pereira (1988), a economia da então vila de Pedro II baseava-se no cultivo da cana-de-açúcar (Saccharum officiarum), da qual se extraía a cachaça em cerca de sessenta engenhos espalhados pela região.
Além da cana-de-açúcar, produzia-se na província de Pedro II, àquela época, milho (Zea mays), mandioca (Manihot esculenta), feijão (Phaseolus vulgaris) e arroz (Oryga sativa) e extraia-se cera de carnaúba (Copernica Cerífera). O rebanho de gado vacum apenas movimentava um pálido comércio de couro e de sola. Nenhuma menção é feita aos demais rebanhos caprino, eqüino, ovino e suíno.
Antes de fazer parte da Comarca Geral, pela lei supracitada (Lei provincial nº 872, de 15 de junho de 1875), a Vila de Pedro II chamara-se “Matões” e pertencia à freguesia de Piracuruca. A povoação foi elevada à categoria de freguesia pela Lei provincial nº 295, de 22 de agosto de 1851, consagrada a Nossa Senhora da Conceição, com os seguintes limites:
pela parte do Norte: toda a serrinha Pé da Serra, Curral Queimado, Chiminguar, Vereda e volta; pelo lado Leste – São João dos Matos, Veado, Monte Alegre, Ponta da Serra, lapa, Chapada e Sítio; pelo Sul: o Sobrado, Alagoas, Macacos, Buriti do Meio, Porteiras, Caraubas, Ininga; e pelo Poente – todas as terras das Cascondas, Olho D’ Água da Pedra e canto; e para a Serrinha do ponto de partida do círculo limítrofe (CASTRO SILVA, 1885 apud PEREIRA, 1988, p. 51).
Em 14 de agosto de 1854, a povoação Matões é elevada à categoria de vila, pela Lei provincial nº 367. A inauguração, porém, só ocorreu a 25 de agosto de 1855, com o nome de “Vila de Pedro Segundo” (que continuava a fazer parte da comarca de Parnaíba). Os limites anteriores da freguesia são mantidos. A Serra dos Matões passou a fazer parte do patrimônio da municipalidade pela Lei provincial 384, de 14 de dezembro de 1855. Em 28 de dezembro de 1889, a vila e o município de Pedro II voltam a se chamar Matões. Em 21 de fevereiro de 1891, a Vila passa à categoria de cidade com o nome de Itamarati, em homenagem ao Palácio da Presidência da República. Finalmente, pela Lei nº 641, de 13 de julho de 1911, até a presente data, a cidade passou a chamar-se Pedro II, em homenagem ao imperador do Brasil.
A sede do município (Fig. 2) localiza-se a 4º 25’ 18” de Latitude Sul e a 41º 27’ 34” de Longitude W, Gr., a uma altitude média de 550 m a 209 Km da capital do Estado. Pertencente à Bacia do Parnaíba, a hidrografia do município consiste de pequenos cursos d´água: Corrente, Matos, Capivaras, Parafuso e os olhos d´água Pirapora, Bonsucesso, Sucuruju, Bananeiras e Buritizinho, além dos açudes Mamoeiro e Joana.
Os primeiros relatos sobre o município de Pedro II não fazem nenhuma menção à existência da opala ou de qualquer outra gema ou minério. A opala, como se verá mais adiante, só seria encontrada acidentalmente na década de 1950.
Conhecido em outras épocas como “Terra do Clima Bom”, “Terra da Rede”, “Terra da Água Boa”, “Suíça Piauiense” e desde dezembro de 2007, como “Primeira Maravilha do Piauí”, nenhuma outra alcunha, entretanto, tem sido tão marcante para o município de Pedro II como a de “Terra da Opala”. A opala tem feito a riqueza de poucos, a desgraça de alguns e não tem mudado o estado de pobreza, e mesmo de miséria, de boa parte dos pedrossegundenses. O Índice de Desenvolvimento Humano – IDH do município é de 0,605 (PNUD, 2000). O fato de ser a “Terra da Opala”, não a isenta das mazelas sociais que assolam a grande maioria dos mais de 5.500 municípios brasileiros, como também faz pensar sobre as razões pelas quais elas persistem e, mais especificamente, porque os bamburristas sofrem tanto as agruras da pobreza material, quanto são eclipsados no espaço social pedrossegundense, em um processo de invisibilidade social.


O OUTRO LADO DA HISTÓRIA QUE AINDA NÃO FOI CONTADA

Na verdade, não se vai dizer aqui que a sociedade de Pedro II, nos termos de sociedade de origem colonial, surge exclusivamente a partir desses povoadores portugueses que ali chegaram, ao final do século XVIII e que fixaram moradia no lugar por eles denominado de “Pequizeiro”. Tal visão simplória da formação das gentes piauienses não tem mais sentido. Muito provavelmente os negros fugitivos já formavam uma pequena comunidade na região de sertão conhecida como “São Luis”. Outros trazidos na condição de escravos deram início ao que hoje é o bairro “Saborá”, primeiro bairro da periferia da cidade de Pedro II, habitado por escravos ou seus descendentes, como parecem sugerir as notas de compra e venda de escravos ainda existentes em um dos cartórios locais. Desse bairro, procedem as primeiras lavadeiras e engomadeiras que serviam nas casas da elite econômica e política local. Além do que, na formação da sociedade pedrossegundense não se pode ignorar a presença indígena, cuja descendência fixou-se, sobretudo, na comunidade “Nazaré” .
A partir daí, tal sociedade seguiu um padrão conhecido de todos que a estudam. A rigidez de sua estrutura social, a concentração do poder político nas mãos de poucas famílias locais, o domínio do latifúndio, dentre outros fatores, marcaram e ainda marcam profundamente o modo de ser dos pedrossegundenses.
Fortes disputas políticas entre as, assim chamadas, “famílias tradicionais” pontuam a história desse município, na vigência do coronelismo, segundo Faoro (2004), uma prática de cunho político-social que vingou na Primeira República (1889-1930), nas cidades do interior do Brasil cujos dignitários (os coronéis) exerciam o poder em toda a plenitude da vida social, concentrando cargos, favorecendo amigos e aliados e cometendo os mais abjetos desmandos.
As práticas coronelistas que, de fato, determinavam a vida política do município, alijaram, econômica e socialmente, parte considerável da população pedrossegundense, sobretudo devido à concentração da terra, aspecto da realidade do município de Pedro II que será aprofundado no capítulo III, ao se abordar o contexto social no qual os bamburristas, de opala estão inseridos.
A Comarca Geral de primeira instância do município foi criada pela Lei provincial nº 872, de 15 de junho de 1875. Faziam parte da Comarca duas freguesias: a de Piripiri e a de Pedro II (grafado “Pedro Segundo”). A sede da segunda Comarca era a Vila de Pedro Segundo, assim consta no anexo da fala do Exmo. Dr. Raimundo Teodorico de Castro Silva, presidente da província do Piauí, na abertura da 2ª Sessão ordinária da 25ª legislatura da Assembléia Provincial do Piauí, no dia 1º de junho de 1885, reproduzida por José Eduardo Pereira:

A Vila de Pedro 2º, sede da Comarca, está situada em terreno acidentado, acha-se cercada de serrotes e outeiros pedregosos, de algumas serras frescas, pouco extensas, o que faz constituir a variedade de seu clima, em geral muito ameno e agradável. O solo, por conseguinte, divide-se em duas partes distintas, montanhosa e sertaneja, sendo aquela muito fresca, produtiva e coberta de matos, e esta, cortada de ribeiros que só correm pelo inverno, de tabuleiros e serrotes, e de excelentes pastagens (CASTRO SILVA, 1885 apud PEREIRA, 1988, p. 51).

Para Pereira (1988), a economia da então vila de Pedro II baseava-se no cultivo da cana-de-açúcar (Saccharum officiarum), da qual se extraía a cachaça em cerca de sessenta engenhos espalhados pela região.
Além da cana-de-açúcar, produzia-se na província de Pedro II, àquela época, milho (Zea mays), mandioca (Manihot esculenta), feijão (Phaseolus vulgaris) e arroz (Oryga sativa) e extraia-se cera de carnaúba (Copernica Cerífera). O rebanho de gado vacum apenas movimentava um pálido comércio de couro e de sola. Nenhuma menção é feita aos demais rebanhos caprino, eqüino, ovino e suíno.
Antes de fazer parte da Comarca Geral, pela lei supracitada (Lei provincial nº 872, de 15 de junho de 1875), a Vila de Pedro II chamara-se “Matões” e pertencia à freguesia de Piracuruca. A povoação foi elevada à categoria de freguesia pela Lei provincial nº 295, de 22 de agosto de 1851, consagrada a Nossa Senhora da Conceição, com os seguintes limites:

pela parte do Norte: toda a serrinha Pé da Serra, Curral Queimado, Chiminguar, Vereda e volta; pelo lado Leste – São João dos Matos, Veado, Monte Alegre, Ponta da Serra, lapa, Chapada e Sítio; pelo Sul: o Sobrado, Alagoas, Macacos, Buriti do Meio, Porteiras, Caraubas, Ininga; e pelo Poente – todas as terras das Cascondas, Olho D’ Água da Pedra e canto; e para a Serrinha do ponto de partida do círculo limítrofe (CASTRO SILVA, 1885 apud PEREIRA, 1988, p. 51).



 APOIO: Faculdade Santo Agostinho e Faculdade Cristo Rei

2 comentários:

Bárbara disse...

Parabens professor Ernani, achei sua postagem muito interessante sobre Pedro II.
De sua aluna Bárbara Macedo.

Anônimo disse...

Obrigado por gostar, Bárbara. Volte sempre.