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(Enviado por RAIMUNDO LIMA)
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Espaço democrático para a arte, literatura e todo papo inteligente de quem, como eu, sabe que 'a vida é breve e a arte é longa', como diz o poeta. Bem-vind@ a essa boteco das arte, na TERRA DA OPALA (Pedro II).
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Oh, meu filho, é você mesmo, é? Você acha que botou as coisinhas tudo no lugar nesse seu livrinho, foi? Você não falou mal de ninguém não, né? Ave Maria, Deus nosso Senhor me livre e guarde de você ter insultado a um e a outro. Ainda bem que você é um bom rapaz, reservado, cuidadoso, que gosta de explicar as coisas bem explicadas. Essa terra é boa, meu filho, terra abençoada por Deus. Imagine mesmo: no meio de três olhos de água, imagine mesmo. Terra de muita fartura. Lembra de quando você era menino? Das barras de seu Jesus, de seu Oswaldo, de seu Zé Pereira? E o Bananeira, que coisa maravilhosa era. Você contou essas coisas tudinho, meu filho, contou?
Meu filho tudo que fazemos aqui nesse mundo haveremos de pagar depois de nossa morte. Está tudo nas sagradas escrituras. Eu mesmo vivi durante um bom tempo nessa terra, comi em muitas mesas, bebi de muitos potes, casei, batizei, dei a primeira comunhão e a extrema unção a muita gente. Mas, que Deus me perdoe, meu filho, êita povinho difícil esse, viu? Todo santo dia que passei nessa paróquia foi para resolver alguma pendenga. Não teve um dia, um sequer, que não viesse alguém, fosse quem quer que fosse, trazendo algum angu de caroço para eu resolver. Isso sem falar nos abacaxis e nos pepinos que eu tinha que descascar e nos jilós que me punham na boca. Nem Cristo, meu filho, nem ele tomou mais fel do que esse humilde servo dele nessa terra de Imperador, arre!!! Mas o que passou, passou, já ouço as trombetas, deve ser o Juízo Final. De que lado que você está, meu filho, diga. De que lado você está? O tempo é chegado! Mas me diga... Você tem algum cuscuzinho de milho daqueles de sua avó por aí, tem?
"Meu caro autor, devo dizer a vossa senhoria que esse seu livro me desconsertou, deixando-me dividido entre a admiração por tão franca prosa e o receio de haver algo de pornográfico nele. Percebo as construções, os arcabouços literários, coisa que também busquei por toda a vida em meus arremedos literários. Mas, francamente, há passagens que me deixaram corado de pudor. Vossa senhoria bem que poderia, se quisesse, ter maneirado na pena, ter sido mais educado, mais comedido e não deixar essa cadela que é a vida vir assim tão despudoradamente se expor na praça, sob o olhar de toda essa gente. Francamente, meu caro, convenhamos. Entrarei com um mandado de apreensão da obra. Ora, ora, pois, pois".